domingo, 14 de junho de 2009

Do supérfluo ao essêncial e vice e versa

Aos seguidores assíduos desse blog, justifico minha ausência por um eventual problema em meu computador. Passei alguns dias sem internet e consequentemente não pude postar. Entretanto, foi exatamente esse hiato digital que me motivou a escrever sobre esse tema. Todos os dias eu sentava defronte ao computador e o ligava. E não era por um desejo milagroso de que ele consertasse sozinho ao alvorecer. Era por puro esquecimento de que ele estava quebrado. Em outras palavras, pela força do hábito. Não sofri de crises de abstinência, mas confesso que me fez bastante falta. Muitas das vezes a força do hábito transforma em essêncial algo que um dia já foi secundário. Se pararamos para refletir, em uma passado não tão remoto nossos ascendentes viveram de forma confortável sem a metade dos bens que nos confortam hoje (me refiro a um passado recente porque não pretendo voltar as gerações anteriores a Revolução Industrial). O que seria das TV's sem o bendito controle remoto? É mais fácil a gente pensar em TV's com apenas um canal que pensar nelas sem o controle remoto. Talvez pior que pensar em televisores sem controle remoto é imaginar um mundo sem aparelhos celulares. Algo que há pouco tempo era privilégio de poucos já se transformou na terceira orelha do corpo humano. Ainda possuo em casa vitrolas e discos de vinil, máquina de datilografar e vídeo-cassete (esse é tão antigo que o controle remoto possui fio). Viraram obsoletos objetos de decoração. A internet em uma tacada só transforma várias coisas ex-essênciais em secundárias. Analisando o lado da comodidade essa priorização de antigos bens secundários deve ser louvada. Porém, levando-se em conta o aumento da disparidade social, a dependência tecnológica, a degradação ambiental e o surto de doenças radioativas essa comodidade pode ter um preço bem maior que o dos próprios bens de consumo. De fato, é inevitável conter essa corrida pela comodidade. E a tendência é que a cada dia mais o supérfluo vire essêncial e vice e versa. Sendo assim, nesse mundo volátil, creio que devemos a cada dia mais dar crédito as coisas que conseguiram sobreviver a essa versatilidade e nunca deixaram de ser essências, como nos casos do beijo sincero, do abraço carinhoso e do sorriso espontâneo.

6 comentários:

  1. No Butão, país famoso pelos inúmeros trocadilhos, o rei instituiu a Felicidade Interna Bruta (FIB). A filosofia naquele país é a de que o objetivo da vida não pode ser limitado a produção e consumo, pois as necessidades humanas são mais do que materiais. Possui uma natureza exuberante, madeiras valiosissímas, mas nem por isso estimula indiscriminadamente o desmatamento e estabeleceu uma cota de turistas por ano. Rádio no país, só depois do fim dos Beatles. A primeira transmissão de TV por lá foi a final da copa de 1998. Aparentemente, a população idolatra o rei e não sente falta de nada do que é essencial para nós atualmente. Não tiveram o desejo de consumo despertado por um comercial da NIKE ou MC DONALDS.

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  2. O ideal seria manter esse nível de vida e sem precisar ser budista. rs
    O nascer desse desejo de posse já começa desde cedo. Assita o excelente, embora tendencioso, documentário: Criança, a alma do negócio. Você o encontrará em: http://interativismo.org/. Lá tem outros vídeos super legais relacionados a isso.

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  3. tem razão, mas vivenciamos a evolução da espécie.

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  4. Dependendo do ponto de vista. Podemos estar evoluindo fisicamente e tecnologicamente. Mas regredindo nas relações intrapessoais e na concepção de prazer.

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  5. Bruno Quebra de Protocolo29 de junho de 2009 às 18:19

    não sei não, acho que hoje em dia é mais fácil encontrar o "prazer". Cada vez somos mais exigentes e isso torna a doidera do prazer um ponto ambicioso.

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  6. Acabei de assistir ao vídeo. Assustador!!!
    Ser pai traz inúmeras inseguranças. A preocupação de não estimular o consumo é uma delas. Procurar não valorizar uma roupa que a criança está usando, ou um perfume, ou um relógio, mas é um esforço hercúleo de nadar contra a corrente das cataratas do iguaçu. Tudo em volta estimula consumo.
    Na escola do Eduardo, estes dias, ficamos chocados com uma menina de aproximadamente 8 anos, estava toda maquiada para ir à escola e tinha inclusive uma tatuagem na perna!!
    Mesmo antes de saber se expressar, ao ver um Mc Donalds ou um Giraffas, percebíamos a euforia de nosso filho. Tudo isso por causa de comerciais que mergulham fundo no subconsciente e nas mensagens subliminares, com cada pedacinho de propaganda milimetricamente estudado para atingir o alvo.

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