quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Vivas ao esquecimento!

Ao me aproximar das páginas finais de novo livro de Chico Buarque(Leite Derramado), não resisti em trazer ao blog a temática abordada no livro. Não vou comentar a obra pois não me sinto nenhum pouco a vontade em brincar de escrever sobre algo de quem escreve brincando. Mas resumo que a obra é uma narrativa de um velho que em seu leito de morte resmunga e comemora o que fez ou deixou de fazer em suas épocas aureas. Chora o leite derramado. Alguns mais que eu vira e meche fazem esse acesso à memória e choram o leite derramado. E põem-se a projetar um emaranhado de situações hipotéticas baseadas na partícula "se". E se eu tivesse feito isso ao invés disso, e se eu tivesse ligado, e se eu não tivesse ido, e por ai vai. Creio que esse lamento é absolutamente normal levando-se em conta que nosso ego é fruto das constantes mixórdias entre id e superego. Todavia, somente choraramos o leite derramado daquilo que lembramos. O que faz com que tudo não passe de simples murmúrios. Agora imagine se lembrássemos de absolutamente tudo que já fizemos ou passamos na vida. Daquele fora público recebido da garota mais linda (para nossos olhos) nos primeiros anos do colégio. Depois a constrangedora queda no saguão da empresa. Os apelidos nos tempos de infância. Aquela surra sofrida. As espinhas, as roupas e os comportamentos no mínimo questionáveis da adolescencia. O gol perdido, o porre, a asneira pronunciada, as reprovações em entrevista de emprego e outras coisas mais. Recordássemos minucosamente de cada coisa feita até hoje. Provavelemente o mundo seria diferente. Viveríamos a derramar leite. O número de suicídios por constrangimento próprio dobraria. E o número de homícidios triplicaria. Sendo assim, salve o esquecimento. Mesmo que por regra ele nos prejudique. Sem ele não derramaríamos o leite, seríamos o próprio leite derramado.

3 comentários:

  1. Este post me fez lembrar de algo muito interessante....Mas durante a redação acabei me esquecendo.

    Foi mal.

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  2. ta ficando difícil ler seus textos, com essas palavras fora do convencional hein...Mas o pior é lembrar do fora das feias!! "o que passou passou" Como diz meu amigo " eu não corro atrás do prejuízo, corro atrás do lucro ".

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  3. Parabéns por mais uma primavera. Neste dia, há 111 anos, também nascia o Clube de Regatas Vasco da Gama. E há 20 anos, morria Raul Seixas.

    Colo aqui um trecho retirado do blog de Paulo Coelho (não, empório didum, não leio o blog do paulo coelho, em um dos blogs que acesso havia a indicação para este texto) a respeito do grande Rauzito, que vai aum pouco ao encontro do que discutimos sobre Michael Jackson

    "Como declarei para a revista “Rolling Stone”, vinte anos atrás eu estava fazendo o Caminho de Roma quando soube de sua morte em uma cabine telefônica. Liguei para o Brasil (como fazia uma vez por semana) para ver se minha mulher estava bem. Tinha três moedas de cinco francos no bolso, um minuto e meio de conversa. Eu disse: “oi Cris, tudo bem?”. E ela: “Não sei se eu te conto”. Caiu a primeira moeda, depois a segunda e daí ela disse: “O Raul morreu”. Caiu a terceira moeda.

    Fico muito contente ao ver que hoje Raul está mais vivo que nunca. Mas não se iludam: em seus últimos anos de vida era motivo de chacota para apresentadores de TV, e sistematicamente ignorado ou atacado pela imprensa. Eu acompanhei isso de perto – não é informação que me passaram. Mais de uma vez Raul me perguntou: “por que os jornalistas me odeiam tanto?” Infelizmente, a tragédia consagra. Assistimos a Jim Morrison no passado, e assistimos a Michael Jackson agora. A imprensa fez tudo para destruir Michael Jackson e, quando ele morreu, a comoção popular foi gigantesca. Longe de mim dizer que Raul morreu porque sentia-se rejeitado – sua morte foi uma escolha, e ponto final, não cabe a ninguém julgar sua decisão. Mas se estivesse vivo, não sei se seu ( ou nosso, dependendo das músicas) trabalho teria a repercussão que merece. "

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